Goa Gil, considerado por muitos o Pai do Trance, estabeleceu as primitivas do fenômeno Goa Trance (Goa Trance é o gênero que deu origem ao que chamamos hoje de Psy Trance), que originam-se em antigas práticas tribais. "Procuro me valer da experiência da música e da dança trance para iniciar uma reação em cadeia no plano da consciência, já que desde o início dos tempos a humanidade tem se utilizado da dança e da música como formas de comunhão com o espírito da Natureza e do Universo". Seu objetivo é redefinir os antigos rituais tribais, re-inserindo-os no século 21. Gil cresceu no meio da cena musical de São Francisco (EUA) durante a década de 60, tendo partido para uma jornada na Índia em 1969. Tendo sido um músico durante toda a sua vida, e também se dedicado intensamente ao Yoga com Gurus no Himalaia, ele tentou unificar ambos (Música & Yoga) em um único Espírito, representativo de nossa época. Essa tentativa resultou nas festas Goa Full Moon e também no seu conceito de "Redefinição dos Antigos Rituais Tribais para o Século 21", utilizando o contexto de uma festa Goa como recurso para amplificar a consciência dos participantes através da dança.
Ray Castle, nascido em Auckland/Nova Zelândia, é junto com Goa Gil, um dos inventores do Goa Trance. Discotecou em festas em Goa, na Índia, no Japão e na Europa entre 1986 a 1994. Se intitula como: um artista das ciências ocultas e da nova mídia, cirurgião cibernético, shaman do Techno, teólogo do Trance, adido astral, eletro-alquimista existencial e meta-mágico. Modesto ele hein?! rs...Da mesma forma que Goa Gil, Ray Castle também encontra uma clara ligação entre o Goa Trance e as culturas tribais. Da mesma maneira que o aborígene, de épocas imemoriais, que contemplava o planeta, batucando com gravetos, extraindo sons da mais primitiva das flautas, o didjeridu, as festas de Trance a céu aberto, verdadeiros rituais, seguem esta mesma linha de comunhão primordial.
Ainda para Castle, "Existe uma qualidade transcendental nessas festas, que as habilita a serem eventos psíquicos de natureza bastante transformadora, catalizando uma união da mente coletiva, que é experimentada independentemente de modismos, sexo, ego e comércio." (ao menos na Índia, onde eram gratuitas, com exceção das propinas pagas aos policiais...). Ele prossegue "Vejo meu papel como sendo aquele de um intermediário que dirige as freqüências e as batidas para que massageiem e ativem a inconsciência e a superconsciência, através do transe e da dança, que se traduzirá numa forma de catarse eufórica coletiva".
O DJ como "shaman" é uma metáfora sempre recorrente nos textos a respeito de Goa Trance. Também, é aplicada aos artistas que criam as músicas. No release da antiga Blue Compilation (fora de catálogo), há a sugestão de que, os compositores "Vibram seus crânios, suavemente massageando e revitalizando o cérebro, eliminando as teias de aranha do plano físico"... E mais além "Com sua terapêutica medicina vibracional, eles nos transportam para megaversos de prazer aural".
O ideário e resultantes aspirações Goa, antecedem o Goa Trance, que não nasce como um estilo musical autóctone, ao contrário, é o resultado de um caldo de cultura cujas origens são tão antigas quanto a própria Humanidade.
Assim como Goa influenciou o formato inicial do Trance, as localidades onde o estilo foi florescendo também o impactaram. A Inglaterra, um dos berços ocidentais do Trance, produziu uma forma inteligente e sofisticada da nova música. A Alemanha, outro berço ocidental do Trance, trazia cravada na sua memória o pioneirismo da primeira grande leva de música eletrônica. Estes dois países podem ser considerados os pontos focais do Trance na Europa, de onde posteriormente o estilo se espalhou rumo aos quatro cantos do planeta.
Em todas as localidades em que aportava, o Trance levava não só sua música fascinante e hipnótica, mas todo um conceito fundamentado em conhecidos princípios humanistas (Paz, Amor, União, Respeito...) – afloravam na Holanda, França, Itália, Suécia, Dinamarca e outros países da Europa. Locais aparentemente inusitados, como Israel (atualmente responsável por 50% das produções de Psy/Goa Trance), Austrália, Nova Zelândia e, posteriormente, México, África do Sul e Brasil, também foram muito receptivos ao processo que, sem dúvida, em diversos aspectos estreitava seus paralelos com a visão hippie dos anos 60.
Na década de 90 o Goa Trance deu origem ao Psy Trance, ritmo com variações entre 138 a 150 bpms. Esses 2 gêneros são bastante parecidos e até se misturam. A sutil diferença entre eles é que o Goa tem elementos da música indiana, e também, um som mais orgânico, natural, enquanto o Psy apresenta um som mais sintético, com linhas de baixo mais rápidas e percursão mais forte.
Não tenho certeza, mas o pessoal diz que o Psy Trance chegou ao Brasil no verão de 1994 numa festa em Arraial (só podia ser), trazido por 2 gringas. O pessoal ficou completamente deslumbrado pela atmosfera envolvente, com decoração incrivelmente simples, compostas apenas de luzes negras e quatro painéis, mas que criava, na medida certa, o complemento para aquela música.... e que música! A sensação de ter encontrado algo que se está procurando há muito tempo foi predominante naquela festa. Foi aí que as raves começaram a surgir aos montes em Arraial, Trancoso, Caraíva, e depois no Brasil todo.